
O boom econômico em Maricá transformou a cidade em polo de interesse de grupos estrangeiros interessados em novos mercados conjugando desenvolvimento à sustentabilidade. Depois de receber, no início do mês, a missão da associação dos construtores civis de Roma (Acer – entidade que reúne 3 mil empresas com faturamento anual de até 50 milhões de euros), a cidade recebeu na semana passada os empresários Alessandro Ferretti e Maurizio Marchetti, dois pesos-pesados da indústria de base italiana. Ambos estiveram no Paço Municipal e apresentaram aos secretários municipais de Desenvolvimento Econômico, Lourival Casula, e de Fazenda, Roberto Santiago, soluções combinadas para a questão do lixo e da geração de energia alternativa.
Alessandro Ferretti dirige uma construtora especializada em obras pesadas e ofereceu ao município uma usina de energia elétrica baseada na incineração limpa de lixo. Já Maurizio Marchetti, presidente da Euro Consorzio Lavori, fabrica unidades para queima segura de lixo plástico, principalmente pneus, um problema sério de poluição. Segundo ele, a tecnologia – chamada pirólise – é nova e seu uso encontra-se em expansão na Itália. Marchetti também fabrica gramados para campos de futebol, mesclando grama natural à artificial. Os estádios do Novara e do Bari – ambos times da primeira divisão – e o San Siro, do Milan, já utilizam essa técnica.
Incineração certificada na Europa
Baseada em Bérgamo e fundada há 103 anos, a construtora Ferretti quer implantar em Maricá uma unidade capaz de incinerar 200 toneladas de lixo por dia – o dobro do volume produzido hoje na cidade – gerando, através de turbina a vapor, 5,5 megawatts/dia – quantidade cinco vezes maior do que o consumo mensal para a iluminação pública (1,02 megawatt/mês). Comparada a modelos eólicos, por exemplo, a tecnologia também é considerada mais produtiva, já que uma turbina eólica gera de 200 a 550 kw/h por mês. “Na Europa não temos espaço nem aterros sanitários e essa solução já se mostrou viável inclusive para aquecer a água das casas”, explicou Ferretti, referindo-se à usina de incineração, que queima, sem resíduos, qualquer tipo de material.
O equipamento combina tipos de queima à ação de filtros especiais. Num destes, elétrico, por exemplo, a poeira é destruída. Já poluentes como o ácido clorídrico e o óxido de enxôfre passam por reações químicas e, em outra etapa, dioxinas e metais pesados como o mercúrio também são eliminados por catalisadores específicos. Segundo Ferretti, o processo está consagrado. “Temos uma em operação desde 2000 perto de Milão”, atestou.
O secretário Lourival Casula considerou o projeto, avaliado em 60 milhões de euros – aproximadamente R$ 160 milhões – interessante para Maricá. “É uma solução possível para a questão do lixo e ainda atende à nossa estratégia de buscar fontes de energia alternativa”, afirmou, antes de pedir a Ferretti que obtenha as certificações técnicas no Brasil. O empresário garantiu que os níveis de emissão seguem as rígidas normas ambientais europeias. “Nossas chaminés são monitoradas em tempo real pelas autoridades”, garantiu ele, que estuda apresentar a proposta ao BNDES. Já a Prefeitura se comprometeu a estudar formas de participação no empreendimento. “Pode ser através de uma PPP”, completou Casula.