Washington Quaquá
A favela venceu: a trajetória de vida e política de Washington Quaquá
Pela terceira vez, o político irá comandar a cidade que ajudou a transformar e se tornar referência em cidadania e qualidade de vida
De menino pobre nascido na comunidade do Caramujo, em Niterói, a político influente no País. Aos 53 anos, Washington Luiz Cardoso Siqueira, o Quaquá, foi eleito para o seu terceiro mandato como prefeito de Maricá. A cidade se tornou conhecida em todo o Brasil, e até no exterior, pelas políticas públicas inovadoras implementadas por ele mesmo como prefeito desde 2009 e ampliadas a partir de 2016 por seu sucessor, Fabiano Horta. Quaquá tem como vice João Maurício de Freitas, o Joãozinho, ex-secretário de Governo do município e atual presidente do Diretório Estadual do PT.
O prefeito é casado com a empresária e professora licenciada Gabriela Siqueira Lopes. Nascida em Honório Gurgel, subúrbio do Rio, Gabriela veio para Maricá aos 10 anos, estudou na Escola Estadual Elisiário Marta e foi aprovada pelo Enem para Ciências Sociais na UFRJ, hoje cursa Psicologia. Quaquá e Gabriela são pais de Helena, de quatro anos. Quaquá é pai também de Diego Zeidan, 26, ex-vice-prefeito licenciado de Maricá e Secretário de Habitação do município do Rio de Janeiro.
Avô de Luiz, nove anos, e Alice, cinco. Quaquá é bisneto de seu Roboão Cardoso e Dona Maria, imigrantes do Douro, norte de Portugal. Ele nasceu em 31 de maio de 1971 na Casa de Saúde São José, em São Gonçalo, a única da região que atendia moradores de baixa renda. Da maternidade, seguiu para o barraco de pau a pique da família no Caramujo, onde vivia com os pais, o policial militar Luiz Carlos Siqueira, seu Carlinhos, a mãe, a dona de casa Ione Cardoso, e o irmão caçula, Luiz Carlos.
Do Caramujo, a família se mudou para outro barraco, na vizinha Maricá. A habitação não tinha sequer porta e janela. A chuva invadia a casa também pela laje, sem estrutura para segurar o aguaceiro. A falta de comida desafiava o lar dos Siqueira, que muitas vezes só tinham as rãs e peixes do Rio Mumbuca como alimento.
“Para não passar fome, nós pegávamos rã a paulada e acará (peixe de água doce) nos buracos na beira do rio Mumbuca. Eu agradeço ao rio que me deu proteína para sobreviver. A vida em favela é difícil, mas alegre. O povo brasileiro precisa de pouco para ser feliz”, diz Quaquá. Anos depois, já como prefeito de Maricá, ele deu o nome do rio que matou sua fome na infância à Moeda Social Mumbuca, que hoje ajuda a colocar comida na mesa de mais de 90 mil maricaenses.
Adolescente militante
As privações foram o combustível para o esforço de Quaquá como estudante. Com dificuldade, ele seguiu os estudos em escolas públicas até ser aprovado no vestibular para Sociologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Mas, a militância política, pautada pela defesa dos mais pobres, começou antes da atuação como líder estudantil no Centro Acadêmico.
Ainda adolescente, aos 14 anos, Quaquá já militava no Partido dos Trabalhadores, inspirado pelo líder estudantil Vladimir Palmeira e com muita dedicação aos livros de história e de política. A trajetória no PT o levaria a cargos de destaque, incluindo a direção estadual do partido e a atual posição como membro da Comissão Executiva Nacional do PT, ocupando a Vice-Presidência.
Políticas sociais consolidadas
Após duas tentativas e derrotas, em 2008, Quaquá foi eleito prefeito de Maricá, reelegendo-se em 2012, e agora, em 2024. As duas primeiras gestões foram marcadas por programas que transformaram a vida dos maricaenses, entre eles a Tarifa Zero, no transporte público e a Moeda Social Mumbuca. Com os ônibus Vermelhinhos, Maricá se tornou o primeiro município com mais de 100 mil habitantes a adotar o transporte público gratuito no Brasil. A moeda social posicionou a cidade como centro de inovação econômica e social ao estimular uma economia circular. O objetivo é distribuir renda de maneira equitativa, beneficiando diretamente as pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade.
O ex-prefeito Fabiano Horta expandiu as conquistas. Com isso, Maricá acumula 16 anos consecutivos de governos progressistas, tornando-se referência em políticas públicas no país. Em 2023, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) condecorou Quaquá com a medalha Tiradentes, maior honraria da Casa, pelo seu trabalho pela população fluminense, em especial pelos mais pobres.
Economia das famílias e das pessoas
“Eu sei o que é passar fome. Por isso, minha luta é, e sempre será, para que os mais pobres tenham uma vida mais digna e humana. Foi isso que me motivou a criar programas como o Vermelhinho, a Mumbuca, as Casas da Terceira Idade e outros. Agora vamos fazer de Maricá uma cidade ainda melhor para todos os maricaenses, sempre com um olhar para a economia das famílias e das pessoas”, afirma o prefeito.
Quaquá foi deputado federal, eleito em 2022 com 113.282 votos. Sociólogo formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ele é autor de dois livros: “Da Favela ao Poder” (ed. Mais Palavras), no qual relata sua história de vida, e “Cabeça nas Nuvens” (ed. Mórula Editorial), que reúne poesias autorais com prefácio do sambista Moacyr Luz. É também presidente de honra da escola de samba União de Maricá, que no ano passado desfilou pela primeira vez no Sambódromo pela Série Ouro do Carnaval Carioca.